Folk Tale

Os três homenzinhos na floresta

Translated From

Die drei Männlein im Walde

AuthorJacob & Wilhelm Grimm
Book TitleKinder- und Hausmärchen
Publication Date1812
LanguageGerman

Other Translations / Adaptations

Text titleLanguageAuthorPublication Date
De drie mannetjes in het bosDutchM.M. de Vries-Vogel1940
I tre omini del boscoItalian__
Ba người lùn trong rừngVietnamese__
De tre små mænd i skovenDanish__
Los tres enanitos del bosqueSpanish__
The three little men in the woodEnglish__
Les trois petits hommes de la forêtFrench__
ATU480
LanguagePortuguese
OriginGermany

Os três homenzinhos na floresta

Havia um homem cuja mulher morrera, e uma mulher cujo marido morrera;e o homem tinha uma filha, e a mulher tinha uma filha também.

As meninas vieram a se conhecer, foram passear juntas e, mais tarde, chegaram à casa da mulher.Esta disse, então, à filha do homem:

- Escuta, dize a teu pai que eu gostaria de me casar com ele;terás, todas as manhãs, leite para te lavares e vinho para beber;minha filha porém, terá água para se lavar e água para beber.

A menina foi para casa e contou a seu pai o que a mulher havia dito.

- Que devo fazer?– disse o homem.– O casamento é uma alegria e é, também, tormento.

Por fim, como não conseguisse tomar decisão alguma, descalçou sua bota e disse:

- Pega esta bota, que tem um furo na sola, leva-a ao sótão, pendura-a no prego grande e despeja-lhe água dentro.Se ela contiver a água, decido que tomo de novo uma esposa, mas se a água escorrer, decido que não.

A menina fez como lhe fora ordenado, mas a água retraiu o furo, e a bota ficou cheia até a borda.Ela comunicou o resultado ao pai, e ele, então, subiu pessoalmente.Quando viu que a filha tinha razão, foi ter com a viúva, pediu-lhe a mão, e o casamento se realizou.

Na manhã seguinte, quando as duas meninas se levantaram, a filha do homem encontrou leite para se lavar e vinho para beber;para a filha da mulher, porém, havia água para se lavar e água para beber.Na segunda manhã, tanto a filha do homem como a filha da mulher encontraram água para se lavarem e água para beber.E, na terceira manhã, a filha do homem tinha água para se lavar e água para beber, e a filha da mulher tinha leite para se lavar e vinho para beber.E assim continuou dali por diante.

A mulher tomou ódio da enteada e, de dia para dia, não sabia mais o que fazer de pior para ela.Além disso, tinha-lhe inveja, pois a enteada era bela e graciosa, enquanto sua própria filha era feia e repugnante.

Certa vez, no inverno, quando tudo se congelara espessamente e a montanha e o vale jaziam cobertos de neve, a mulher fez um vestido de papel, chamou a menina e disse:

- Toma este vestido, veste-o e vai à floresta colher para mim um cestinho cheio de morangos.Estou ansiosa para comê-los.

- Meu bom Deus, – disse a menina – no inverno não crescem morangos, a terra está congelada, e a neve cobriu tudo!E por que devo ir com este vestido de papel?Lá fora está tão frio que chega a gelar o hálito.O vento passará através do vestido, e os espinhos o arrancarão do meu corpo.

- Ousas contradizer-me?– retrucou a madrasta.– Trata de ir e não me apareças antes de teres o cestinho cheio de morangos.

Deu-lhe ainda um pedacinho de pão duro e disse:

- Com isto, terás o que comer durante o dia.

E pensou:"Lá fora, acabará enregelando-se e morrendo de fome, e nunca mais aparecerá diante dos meus olhos."

A menina, então, obedeceu, pôs o vestido de papel e saiu com o cestinho.Por toda parte, não havia outra coisa a não ser neve, e não se enxergava um só talinho verde.Chegando à floresta, ela viu uma casinha onde três homenzinhos espiavam pela janela.Ela desejou-lhes bom-dia e bateu discretamente a porta.Eles chamaram-na para dentro, e ela entrou na salinha e sentou-se num banco junto ao fogão;queria aquecer-se e comer sua refeição.Os homenzinhos disseram:

- Dá-nos também um pouquinho!

- Com todo o prazer – respondeu ela, e partiu em dois seu pedacinho de pão, dando-lhes a metade.

Eles perguntaram:

- Que queres aqui na floresta, em pleno inverno, com esse vestidinho tão fino?

- Ah, – respondeu ela – preciso procurar morangos para encher este cestinho, e não posso voltar para casa sem levá-los comigo.

Tendo ela acabado de comer seu pão, eles deram-lhe uma vassoura, dizendo:

- Tira com ela a neve da porta dos fundos.

Enquanto ela estava lá fora, os homenzinhos puseram-se a conversar entre si:

- Que lhe devemos dar de presente por ser tão gentil e bondosa, e por ter repartido seu pão conosco?

Então, o primeiro disse:

- O meu presente é que ela se torne cada dia mais bela.

E disse o segundo:

- O meu presente é que lhe caia da boca uma moeda de ouro, sempre que pronunciar uma palavra.

E o terceiro disse:

- O meu presente é que venha um rei e a tome por esposa.

A menina fez como os homenzinhos lhe haviam mandado, tirou com a vassoura a neve que havia atrás da casa, e o que pensais que ela encontrou?Uma grande quantidade de morangos maduros, bem encarnados, que surgiam por entre a neve.Cheia de alegria, apressou-se em apanhá-los e encher seu cestinho, agradeceu aos homenzinhos, apertando a mão de cada um, e correu para casa, pois queria levar à madrasta o que ela lhe exigira.Quando entrou e disse "Boa-noite!,"imediatamente caiu de sua boca uma moeda de ouro.Contou, então, o que lhe havia sucedido na floresta e, a cada palavra que pronunciava, caíam-lhe da boca moedas de ouro, de modo que logo toda a sala se cobria delas.

- Olha só que leviandade – exclamou a filha da madrasta – jogar dinheiro dessa maneira!

No intimo, porém, estava com inveja e também queria ir até a floresta procurar morangos.Disse a mãe:

- Não, minha querida filhinha, está frio demais e poderias ficar enregelada.

Como, no entanto, ela não lhe desse mais sossego, acabou consentindo.Fez-lhe um magnífico casaco de pele, que ela vestiu, e deu-lhe pão com manteiga e bolo para comer no caminho.

A menina entrou na floresta e foi direto à pequena casinha.Os três homenzinhos lá estavam de novo espiando pela janela;ela, porém, não os cumprimentou e, sem ao menos voltar o olhar para eles, embarafustou pela sala adentro, sentou-se ao fogão e começou a comer seu pão com manteiga e seu bolo.

- Dá-nos também um pouquinho – exclamaram os homenzinhos.

Ela, porém, respondeu:

- Mal chega para mim, como posso dar aos outros?

Quando acabou de comer, disseram eles:

- Aqui tens uma vassoura.Vai lá fora, varre com ela diante da porta dos fundos e deixa tudo limpo.

- Ora, varrei vós mesmos, – respondeu ela – eu não sou vossa criada.

E, vendo que eles não lhe queriam dar nada de presente, saiu pela porta afora.

- Que lhe devemos dar por ser tão descortês, e por ter um coração mal e invejoso, e por não repartir nada com ninguém?

Disse o primeiro:

- O meu presente é que ela se torne cada dia mais feia.

E disse o segundo:

-O meu presente é que lhe salte da boca um sapo, a cada palavra que pronunciar.

E disse o terceiro:

- O meu presente é que morra de morte horrível.

Lá fora, a menina procurou morangos.Como não achou nenhum, foi para casa aborrecida.E, quando abriu a boca, querendo contar à mãe o que lhe sucedera na floresta, a cada palavra que proferia, saltava-lhe da boca um sapo, de modo que todos tomaram aversão por ela.

A madrasta, então, zangou-se mais ainda e só pensava na maneira de causar todo tipo de sofrimento à enteada, cuja beleza aumentava de dia para dia.Por fim, pegou um caldeirão, pôs no fogo e ferveu fios dentro dele.Depois de fervidos, pendurou-os nos ombros da pobre menina e lhe deu um machado, mandando-lhe que fosse até o rio congelado, fizesse um buraco no gelo e enxaguasse os fios.

Obedientemente, ela foi até lá e se pôs a dar machadadas no gelo para abrir um buraco;ainda estava ocupada nisso, quando apareceu uma suntuosa carruagem, dentro da qual estava o rei.A carruagem se deteve, e o rei perguntou:

- Minha pequena, quem és tu e que fazes aí?

- Sou uma pobre menina e enxaguo fios.

Então, o rei teve pena e, vendo que ela era tão bela, disse:

- Queres vir comigo?

- Oh, sim, de todo o coração – respondeu ela, contente de poder ficar longe das vistas da mãe e da irmã.

Assim, subiu na carruagem e foi embora com o rei.Quando chegaram ao castelo, o casamento foi festejado com grande esplendor, conforme os homenzinhos lhe haviam desejado.

Passado um ano, a jovem rainha teve um filho.A madrasta, ouvindo falar de sua grande felicidade, foi com sua filha ao castelo, sob o pretexto de fazer uma visita.Mas como, em dado momento, o rei se ausentou e não havia mais ninguém por perto, a malvada mulher agarrou a rainha pela cabeça, e sua filha agarrou-a pelos pés, tiraram-na da cama e jogaram-na pela janela, na correnteza do rio que por ali passava.Em seguida, a filha feia deitou-se na cama, e a velha cobriu-a até a cabeça.Quando rei voltou e quis falar com sua mulher, a velha disse:

- Psiu...silêncio!Agora não é possível.A rainha está suando muito.Hoje deveis deixá-la repousar.

O rei não viu maldade nisso e voltou na manhã seguinte.Quando falou com sua mulher, a cada resposta que ela lhe dava, saltava-lhe um sapo da boca, quando antes caía uma moeda de ouro.Então, ele perguntou o que era aquilo, mas a velha respondeu que era conseqüência do forte suadouro e que logo passaria.

À noite, porém, o ajudante de cozinha viu uma pata que, nadando pela sarjeta, chegou e disse:

- Ó rei, que fazes aí?

Estás a velar ou estás a dormir?

E, como ele não lhe desse resposta alguma, ela perguntou:

- E como estão minhas visitas?

Então o ajudante de cozinha respondeu:

- Profundamente adormecidas.

E ela continuou:

- Que está fazendo o meu filhinho?

E ele respondeu:

- Está dormindo em seu bercinho.

Então, retomando o aspecto de rainha, ela subiu, amamentou o filhinho, ajeitou-lhe a caminha, cobriu-o bem e, retomando a forma de uma pata, foi-se embora de novo, nadando pela sarjeta.Assim, ela veio por duas noites.Na terceira, disse ao ajudante de cozinha:

-Vai, e dize ao rei para apanhar sua espada e, na soleira da porta, brandi-la três vezes sobre mim.

O ajudante de cozinha correu a falar com o rei, que veio com a espada e a brandiu três vezes sobre o espírito;na terceira vez, estava diante dele a sua esposa, radiante, cheia de vida e saúde como antes.

O rei sentiu grande alegria, mas conservou a rainha escondida num aposento até o domingo seguinte, quando a criança deveria ser batizada.Terminada a cerimônia, ele disse:

- Que merece uma pessoa que arranca outra da cama e a atira ao rio?

- Nada melhor – respondeu a velha – do que meter a malvada num barril crivado de pregos e rodá-lo montanha abaixo para dentro d'água.

O rei, então, disse:

- Proferiste tua sentença.

E mandou buscar um barril assim, e mandou meter dentro dele a velha com sua filha;e o fundo do barril foi pregado, e o barril foi posto a rolar montanha abaixo, até que rodou para dentro do rio.


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