Folk Tale

As três folhas da serpente

Translated From

Die drei Schlangenblätter

AuthorJacob & Wilhelm Grimm
Book TitleKinder- und Hausmärchen
Publication Date1812
LanguageGerman

Other Translations / Adaptations

Text titleLanguageAuthorPublication Date
De drie slangenbladerenDutchM.M. de Vries-Vogel1940
Le tre foglie della serpeItalian__
Ba chiếc lá rắnVietnamese__
De tre slangebladeDanish__
Las tres hojas de la serpienteSpanish__
The three snake-leavesEnglishMargaret Hunt_
Les trois feuilles du serpentFrench__
ATU612
LanguagePortuguese
OriginGermany

As três folhas da serpente

Houve uma vez um pobre homem que não podia mais sustentar seu filho único.Este,

então, disse ao pai:

- Meu querido pai, vives tão miseravelmente e eu sou um peso para ti;quero, portanto, ir-me embora e tratar de ganhar o pão de cada dia.

O pai deu-lhe a benção, despedindo-se dele com grande tristeza.

Naquele tempo, o rei de importante reino estava na guerra;o jovem entrou ao seu serviço, acompanhando-o ao campo de luta.Quando chegaram à frente do inimigo, travou-se uma grande batalha;o perigo era assustador;o feijão azul (balas) caía de todos os lados e os companheiros eram terrivelmente dizimados.Tendo caído também o comandante, os outros tentaram fugir, mas o jovem postou-se à frente deles e incentivou-os, exclamando:

- Não deixaremos perecer nossa Pátria!Avante!

Os outros, então, seguiram-no;ele irrompeu contra o inimigo e derrotou-o.Quando o rei veio a saber que só a ele devia a vitória, elevou-o a grande dignidade, deu-lhe tesouros ingentes e nomeou-o primeiro-ministro de seu reino.

O rei tinha uma filha belíssima, mas muito esquisita.Ela havia jurado que só aceitaria por esposo e senhor quem lhe prometesse deixar-se enterrar vivo com ela, se acaso ela morresse primeiro.

- Se me amar realmente, - dizia ela - de que lhe servirá depois a vida?

Em compensação, prometia fazer o mesmo:Descer à sepultura junto com o marido se

ele morresse primeiro.Esse estranho juramento havia sempre desencorajado todos os pretendentes, mas o jovem, tão fascinado ficou com a beleza dela, que não deu

importância a tal esquisitice e pediu-a assim mesmo em casamento.

- Sabes, porém, o que deves prometer?- perguntou-lhe o rei.

- Sei, - respondeu o jovem - se eu lhe sobreviver, terei de descer com ela à sepultura;mas o meu amor é tão grande que o risco não me causa receio algum.

Assim, obtido o consentimento do rei, realizaram-se as núpcias com o máximo

esplendor.Durante algum tempo, viveram os jovens alegres e felizes.Entretanto, aconteceu que a rainha ficou gravemente enferma e nenhum médico conseguiu salvá-la.

Diante da falecida esposa, o jovem rei lembrou-se da promessa feita e ficou horrorizado por ter que se enterrar vivo, mas não tinha outra alternativa.O rei dera ordens para que todas as portas fossem vigiadas;assim não lhe era possível fugir ao próprio destino.Portanto, no dia em que o cadáver foi trasladado para a cripta real, o jovem foi obrigado a segui-lo.Uma vez lá dentro, fecharam e aferrolharam-lhe a porta.

Perto do ataúde havia uma mesa e, em cima dela, quatro velas acesas, quatro pães e quatro garrafas de vinho.Quando terminasse essa provisão, ele teria de morrer à míngua.Cheio de angústia e tremendamente acabrunhado, o jovem comia, diariamente, apenas um pedacinho do pão e, do vinho, tomava um golinho apenas.Via, contudo, a morte aproximar-se inevitavelmente.Enquanto se achava assim absorto, olhando para a frente, viu uma serpente sair rastejando do canto da cripta e avizinhar-se do cadáver.Julgando que fosse mordê-la, desembainhou a espada dizendo:

- Enquanto eu viver, ninguém lhe tocará - e cortou o réptil em três pedaços.

Nisso, apareceu uma segunda serpente, que vinha rastejando do canto da cripta mas, quando viu a companheira morta e em pedaços, retirou-se voltando logo com três folhas verdes na boca.Pegou os três pedaços da serpente morta, juntou-os direito e sobre cada um dos talhos colocou uma folha.Os pedaços uniram-se novamente, a serpente moveu-se e readquiriu a vida e, em seguida, fugiu com a companheira.

As folhas ficaram caídas no chão e o infeliz, que assistira àquilo tudo, perguntou a si próprio se o poder mágico que continham, tendo ressuscitado a serpente, não poderia aplicar-se também a um ser humano?Recolheu então as folhas, colocou uma sobre a boca e as outras duas sobre os olhos da esposa falecida.Mal acabou de colocá-las, o sangue voltou a circular nas veias, afluindo-lhe ao rosto, dando-lhe natural colorido.Ela respirou, abriu os olhos e perguntou:

- Oh, Deus meu, onde estou?

- Estás comigo, minha querida mulher - respondeu o jovem.

Em seguida, contou-lhe todo o sucedido e a maneira pela qual havia ressuscitado.Depois, deu-lhe um pedaço de pão e um pouco de vinho;assim que ela se reanimou, levantou-se e ambos foram bater à porta, esmurrando-a e gritando tão alto que os guardas ouviram e correram a avisar o rei.Este, em pessoa, desceu à cripta e abriu a porta, encontrando os dois vivos, sadios e viçosos como nunca;radiantes de alegria, abraçaram-se felizes por terem superado aqueles tormentos.

O jovem rei levou consigo as três folhas e deu-as ao seu criado dizendo:

- Guarda-as com cuidado e traze-as sempre contigo;quem sabe lá as circunstâncias que podem vir e se elas ainda servirão a alguém!

Depois de ressuscitada, porém, a mulher mudara completamente;parecia que de seu coração se tivesse desvanescido todo o amor pelo marido.Este, decorrido algum tempo, quis fazer uma visita ao velho pai;ao embarcarem no navio que os levaria, a rainha esqueceu o grande amor e a dedicação que ele sempre lhe demonstrara, a ponto de tê-la salvo da morte e passou a nutrir uma paixão pecaminosa pelo comandante do navio.

Certo dia, enquanto o rei estava dormindo, chamou o comandante e mandou que pegasse o marido pelos pés, enquanto ela segurava-o pela cabeça e atiraram-no ao mar.Consumado o crime, disse ela:

- Agora voltaremos para casa.Diremos que ele morreu durante a viagem.Eu te exaltarei perante meu pai e tais elogios farei que ele consentirá em nosso casamento.Assim ficarás sendo tu o herdeiro da coroa.

Mas o fiel criado, que tudo presenciara, foi, sem ser visto, destacar um bote salva- vidas e desceu ao mar.Entrou nele e foi vagando à procura de seu amo, deixando os traidores prosseguirem tranqüilamente a viagem.Assim que conseguiu pescar o cadáver, colocou-lhe nos olhos e na boca as três folhas verdes que trazia consigo, as quais lhe restituíram a vida.

Juntos, então, puseram-se a remar dia e noite, com todas as forças e o bote voava por sobre as ondas com tamanha velocidade, que chegaram antes dos outros à presença do rei.Este, vendo-os regressar sozinhos, muito se admirou e perguntou qual o motivo.Ao ter conhecimento da crueldade da filha, exclamou:

- Custa-me crer que tenha agido assim cruelmente, porém, a verdade logo virá à luz.

Mandou que entrassem num quarto secreto e ficassem ocultos de todos.Não tardou muito e chegou o navio.A pérfida rainha apresentou-se ao pai muito aflita.Ele perguntou-lhe então:

- Por que voltas sozinha?Onde está teu marido?

- Ah, meu querido pai - respondeu ela - volto em grande luto;meu marido adoeceu repentinamente durante a viagem e faleceu.Se este bom comandante não me socorresse, não sei o que teria sido de mim.Ele assistiu-lhe a morte e pode contar tudo.

- Eu vou fazer ressuscitar o morto - disse o rei.

Abriu a porta do quarto secreto e fez sair os dois.Ao ver o marido, a rainha recebeu um choque tão grande como se lhe tivesse caído um raio aos pés.Prostrou-se de joelhos implorando perdão, mas o rei gritou-lhe:

- Para ti não pode haver perdão!Ele mostrou-se pronto a morrer contigo;restituiu-te

a vida e tu o assassinaste enquanto dormia.Deves, pois, receber o justo castigo.

Conduziram-na, juntamente com o cúmplice, para um navio que fazia água e os

lançaram ao mar, onde, não tardou muito, foram a pique e se afogaram.


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