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O lobo e as sete crianças
Title | O lobo e as sete crianças |
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Original Title | Der Wolf und die sieben jungen Geisslein |
Original Author | Jacob & Wilhelm Grimm |
Original ID | trans-46.xml |
Language code | por |
Era uma vez uma velha cabra que tinha sete cabritinhos e os amava, como uma boa mãe pode amar os filhos.Um dia, querendo ir ao bosque para as provisões do jantar, chamou os sete filhinhos e lhes disse:
- Queridos pequenos, preciso ir ao bosque;cuidado com o lobo;se ele entrar aqui, come-vos todos com uma única abocanhada.Aquele patife costuma disfarçar-se, logo o reconhecereis, porém, pela voz rouca e pelas patas negras.
Os cabritinhos responderam:
- Podeis ir sossegada, querida mamãe, ficaremos bem atentos.
Com um balido, a velha cabra afastou-se confiante.Pouco depois, alguém bateu à
porta, gritando:
- Abri, queridos pequenos;está aqui vossa mãezinha que trouxe um presente para
cada um!
Mas os cabritinhos perceberam, pela voz rouca, que era o lobo.
- Não abrimos nada, - disseram - não é a nossa mamãe;a mamãe tem uma vozinha
suave;a tua é rouca;tu és o lobo!
Então o lobo foi a um negócio, comprou um grande pedaço de argila, comeu-o e assim
a voz dele tornou-se mais suave.Em seguida, voltou a bater à porta, dizendo:
- Abri, queridos pequenos;está aqui a vossa mãezinha que trouxe um presente para
cada um!
Mas havia apoiado a pata negra na janela;os pequenos viram-na e gritaram:
- Não abrimos, nossa mamãe não tem as patas negras como tu;tu és o lobo.
O lobo correu, então, até o padeiro e lhe disse:
- Machuquei o pé, queres esparramar-lhe em cima um pouco de massa?
Quando o padeiro lhe espargiu a massa na pata, correu até o moleiro e disse:
- Espalha um pouco de farinha de trigo na minha pata.
O moleiro pensou:"Este lobo está tentando enganar alguém"e recusou-se a atendê-
lo.O lobo, porém, ameaçou-o:
- Se não o fizeres, devoro-te!
O moleiro, então, se assustou e polvilhou-lhe a pata.Aliás, isso é comum entre os
homens.O malandro foi, pela terceira vez, bater à porta dos cabritinhos, dizendo:
- Abri, pequenos, vossa querida mãezinha voltou do bosque e trouxe um presente para
cada um de vós!
Os cabritinhos gritaram:
- Mostra-nos primeiro a tua pata para que saibamos se és realmente nossa
mamãezinha.
O lobo não hesitou, colocou a pata sobre a janela e, quando viram que era branca, acreditaram no que dizia e abriram-lhe a porta.Mas foi o lobo que entrou.Os cabritinhos, amedrontados, trataram de se esconder.O primeiro escondeu-se debaixo da mesa, o segundo meteu-se embaixo da cama, o terceiro correu para dentro do forno, o quarto foi para a cozinha, o quinto fechou-se no armário, o sexto dentro da pia e o sétimo na caixa do relógio de parede.Mas o lobo encontrou-os todos e não fez cerimônias;engoliu-os um após o outro.O último, porém, que estava dentro da caixa do relógio, não foi descoberto.Uma vez satisfeito, o lobo saiu e foi deitar-se sob uma árvore, no gramado fresco do prado e não tardou a ferrar no sono.Não tardou muito e a velha cabra regressou do bosque.
Ah, o que se lhe deparou!A porta da casa escancarada;mesa, cadeiras, bancos, tudo de pernas para o ar.A pia em pedaços, as cobertas, os travesseiros arrancados da cama.Procurou logo os filhinhos, não conseguindo encontrá-los em parte alguma.Chamou-os pelo nome, um após o outro, mas ninguém respondeu.Ao chamar, por fim, o menor de todos, uma vozinha sumida gritou:
- Querida mamãezinha, estou aqui, dentro da caixa do relógio.
Ela tirou-o de lá e o pequeno contou-lhe que viera o lobo e devorara todos os outros.Imaginem o quanto a cabra chorou pelos seus pequeninos!Saiu de casa desesperada, sem saber o que fazer;o cabritinho menor saiu-lhe atrás.Chegando ao prado, viram o lobo espichado debaixo da árvore, roncando de tal maneira que fazia estremecer os galhos.Observou-o atentamente, de um e de outro lado e notou que algo se mexia dentro de seu ventre enorme.
- Ah!Deus meu, - suspirou ela - estarão ainda vivos os meus pobres pequenos que o
lobo devorou?
Mandou o cabritinho menor que fosse correndo em casa apanhar a tesoura, linha e agulha também.De posse delas, abriu a barriga do monstro;ao primeiro corte, um cabritinho pôs a cabeça de fora e, conforme ia cortando mais, um por um foram saltando para fora;todos os seis, vivos e perfeitamente sãos, pois o monstro, na sanha devoradora, os engolira inteiros, sem mastigar.
Que alegria sentiram ao ver a mãezinha!Abraçaram-na, pinoteando felizes como
nunca.Mas a velha cabra lhes disse:
- Ide depressa procurar algumas pedras para encher a barriga deste danado antes que
ele desperte.
Os cabritinhos, então, saíram correndo e daí a pouco voltaram com as pedras, que meteram, tantas quantas couberam, na barriga ainda quente do lobo.A velha cabra, muito rapidamente, coseu-lhe a pele de modo que ele nem chegou a perceber.
Finalmente, tendo dormido bastante, o lobo levantou-se e, como as pedras que tinha no estômago lhe provocassem uma grande sede, foi à fonte para beber;mas, ao andar e mexer-se, as pedras chocavam-se na barriga, fazendo um certo ruído.Ele
então pôs-se a gritar:
Dentro da pança,
que é que salta e pula?
Cabritos não são;
parece pedra miúda!
Chegando à fonte, debruçou-se para beber;entretanto, o peso das pedras arrastou-o para dentro da água, onde se acabou afogando miseravelmente.Vendo isso, os sete cabritinhos saíram correndo e gritando:
- O lobo morreu!O lobo morreu!
Então, juntamente com a mãezinha, dançaram alegremente em volta da fonte.